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Resenha: Quarta Asa - Rececca Yarros
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Quarta Asa - Rececca Yarros
O Empyriano 1
Avaliação: ★★★★★ (5/5)
Classificação: Adulto +18
Gênero: Fantasia, Romance, ficção
Ano: 2023 / Páginas: 544
Editora: Planeta Minotauro
⚠️Essa resenha contém spoiler.
Você estaria disposto a enfrentar a morte para conquistar o vínculo com um dragão?Quarta Asa é o primeiro volume da série O Empyriano, escrito por Rebecca Yarros e publicado no Brasil em outubro de 2023. A narrativa combina elementos de alta fantasia, romance e intriga política, mergulhando o leitor em um mundo onde dragões determinam quem vive ou vira cinzas.
Um dragão sem seu cavaleiro é uma tragédia. Um cavaleiro sem seu dragão é um homem morto.
ENREDO E ESTRUTURA NARRATIVA
Narrado em primeira pessoa pela protagonista Violet, o ponto de vista é íntimo e imersivo, permitindo acesso às emoções e pensamentos dela. A confiabilidade do narrador é total, sem ambiguidade ou mudanças ao longo da narrativa, o que mantém o foco e facilita a conexão com o leitor.
UNIVERSO & AMBIENTAÇÃO
A história se passa em um mundo de fantasia militarizado, com dois reinos em guerra: Navarre e Poromiel. A ambientação é bem detalhada, especialmente a Escola Basgiath, com suas divisões e regras cruéis. O cenário contribui fortemente para a atmosfera opressiva e tensa. Embora falte um mapa na 1° edição (o que prejudica a visualização espacial), o universo tem coerência interna e regras claras, principalmente sobre a relação entre dragões, cavaleiros e magia. As descrições sensoriais ajudam a imergir o leitor, especialmente nas cenas de treino e vínculo com dragões.
PERSONAGENS & DESENVOLVIMENTO
A Violet Sorrengail é uma jovem de 20 anos destinada à Divisão dos Escribas, que tem sua vida virada do avesso quando sua mãe, a General Sorrengail, a força a ingressar na Divisão dos Cavaleiros, na Escola de Guerra Basgiath uma escola militar brutal onde forças físicas são mais valorizadas do que inteligência.
Essa mudança ocorreu cerca de 6 meses antes do Dia do Alistamento, ela fica arrasada. Por que? Ser escriba não era apenas um desejo ou sonho, era sua vida. Seu pai era um escriba. Ele morreu doente, poucos anos depois da morte do irmão mais velho de Violet.
A morte do pai deixou um vazio emocional profundo, pois ela se sentia muito mais conectado a ele do que à mãe. Era ele quem a inspirou a valorizar a inteligência, os livros, o pensamento crítico e a empatia, todas qualidades que a ajudam a sobreviver no brutal mundo dos cavaleiros.
A nossa caçula nasceu com uma condição de saúde frágil, embora o livro não nomeie uma doença específica, menciona em vários momentos que Violet nasceu menor e mais fraca do que o esperado, que teve problemas com desenvolvimento físico e imunidade, sendo uma criança frequentemente doente e com articulações frágeis. Consequentemente, muito mais vulnerável no ambiente violento da Academia Basgiath.
No entanto, mãe da mocinha não se importa e nunca aceitou essa fragilidade, segundo ela:
"Todos os Sorrengail são cavaleiros. — Lilith Sorrengail"
Mas ao forçá-la a ingressar na Divisão dos Cavaleiros, acaba colocando Violet em risco real de morte. "Em vários momentos custei a acreditar que ela realmente é mãe da Violet."
Sem preparo físico adequado e considerada frágil, segue para seu primeiro desafio. O parapeito. Seu objetivo? Sobreviver. É aqui que a história começa.
Frágil fisicamente mas resiliente, desafia os estereótipos de heroína ao sobreviver e se destacar em um ambiente brutal. Agora cadete, sua vida ainda está em risco, os desafios não acabaram. Violet torna-se alvo dos colegas cadetes. O que é considerado normal no ambiente escolar, desde que siga as regras estabelecidas do Cordex.
O treinamento é intenso e brutal. Ela passa por lutas físicas, testes de agilidade, táticas e sobrevivência, tentativa de vínculo com um dragão (Ceifa/Colheita) aulas de teoria e combate com e sem magia. Ela não consegue lutar de igual para igual fisicamente, por isso aprende a sobreviver com inteligência, estratégia e agilidade. Muitos colegas a consideram “fraca demais para montar um dragão”, o que a torna alvo de bullying, preconceito e tentativas de assassinato.
Ela ainda sofre dores constantes nas articulações, especialmente nas mãos, pulsos e ombros e joelhos, o que a faz usar faixas com frequência durante o treinamento.
Ao longo da narrativa, acompanhamos a crescente tensão de Violet diante da temida Fase da Ceifa, afinal, será que um dragão escolheria alguém frágil como ela? Essa é uma das questões centrais do livro e uma das mais fascinantes, sua jornada prova que a força não está apenas nos músculos, mas na mente, na coragem e na capacidade de resistir quando todos esperam sua queda.
É por isso que Quarta Asa é tão apaixonante e viciante. Nós somos Violet Sorrengail, torcemos por ela a cada página, desejamos que sobreviva, e queremos ver cada pessoa que duvidou ou tentou destruí-la sentirem o peso da própria arrogância esmagá-los.
Xaden Riorson, perdeu o pai quando tinha 17 anos. O pai dele foi executado por traição nessa época, o que marcou profundamente a vida do Xaden e influenciou seu desenvolvimento ao longo da história.
Ele foi constantemente vigiado, julgado e ameaçado. Ao entrar em Basgiath, teve sua virada de chave e se tornou o líder da quarta asa, respeitado, temido e um estrategista brilhante.
Violet conhece Xaden no Dia do Alistamento, pouco antes de atravessar o parapeito mortal da escola. Logo depois ele é apresentado como o Líder de Asa em que ela é inserida. O clima entre eles é imediatamente carregado de hostilidade silenciosa.
A mãe de Violet é a responsável pela execução do pai de Xaden, após a rebelião. Ou seja, ela carrega o sobrenome do inimigo dele. E vice-versa. Mira, a irmã de Violet, alerta para se manter longe dele, e adivinha? Ela faz o completo oposto!
No início, ele carrega uma aparência de frieza e arrogância, mas seu desdém e hostilidade fecha as portas e abre uma para um romance slow burn. A relação evolui lentamente, com tensão crescente, diálogos carregados de ironia e provocação (apresenta cenas explícitas e emocionante química, característica comum no gênero romantasia). O romance se baseia na superação da herança familiar, no respeito mútuo e na parceria real em batalha. Xaden se torna alguém que confia em Violet, compartilha "alguns" segredos com ela, e vê nela uma aliada para mudar o destino do reino.
No plot twist final, descobrimos que ele carrega muito mais segredos que desafiam a narrativa oficial da guerra. Seu propósito está ligado a continuar o legado do pai: descobrir a verdade, proteger os inocentes e expor as mentiras do reino. Assim ele forma uma rede secreta entre os filhos dos rebeldes, que estão silenciosamente organizados dentro da própria academia.
Tairn, dragão negro, poderoso e lendário. Ele é sarcástico, sábio e protetor. Parceiro da dragão de Xaden, a Sgaeyl. Andarna, pequena dragão dourada, jovem e misteriosa (um filhote). Ela é uma fofa. Os dragões são parte ativa da narrativa, opinando, aconselhando e até discutindo entre si, o que gera momentos divertidos e profundos. Ter dois dragões dá a Violet duas fontes de poder mágico (sinete), o que a torna extremamente poderosa. A relação dela com ambos os dragões é emocionalmente significativa, com momentos de confiança, conflito e crescimento.
Violet forja alianças com os colegas de esquadrão para sobreviver aos desafios da Escola, além de seguir os sábios conselhos de sua irmã e de seu irmão, esse através de um diário. Os personagens são complexos e apresentam arcos de desenvolvimento interessantes como Rhiannon, Ridoc, Saway, Jesina, Dane. Há representatividade da diversidade emocional e conflitos familiares, embora alguns personagens possam parecer estereotipados, como o oficial superprotetor Dane.
Outros personagens:
- Dane Aetos, amigo de infância de Violet. Ele é um oficial da academia (sub líder de setor). Superprotetor, paternalista e controlador (ele é altamente irritante). Ele constantemente tenta convencer Violet a abandonar a Divisão dos Cavaleiros. Suas ações levantam questionamentos sobre confiança e traição.
- Rhiannon Matthias, melhor amiga e aliada de Violet na academia. Brilhante, leal e engraçada. Também pertence à Quarta Asa. Serve como apoio emocional e estratégico em diversas cenas.
- Mira Sorrengail, Irmã mais velha de Violet. Cavalera veterana e modelo de sucesso militar. Cuida da irmã com carinho, mas segue as ordens da mãe. Representa o que Violet “deveria” ter sido, segundo os padrões da família.
- General Lilith Sorrengail, Mãe de Violet, Mira e Brennan. Fria, calculista e extremamente rigorosa. Decide forçar Violet a entrar na Divisão dos Cavaleiros. Serve como símbolo do autoritarismo de Navarre.
- Brennan Sorrengail (mencionado) Irmão mais velho de Violet, dado como morto após a rebelião. Sua morte é um trauma familiar — mas há segredos a descobrir.
- Jesina - amiga de Violet, escriba que estudou com ela para o exame.
- Jack Barlowe, Cadete cruel da Divisão dos Cavaleiros. Constantemente tenta intimidar ou matar Violet.
- Imogen – aliada de Xaden, tatuadora e usuária de magia;
- Liam Mairi – guarda-costas informal de Violet e amigo leal.
- Ridoc – amigo de Violet, um cadete de seu esquadão.
- Sgaeyl – dragonesa de Xaden, parceira de Tairn.
Fen Riorson - O líder da Rebelião que ocorreu anos antes dos eventos do livro, acreditava que o governo de Navarre estava escondendo segredos perigosos, incluindo mentiras sobre a guerra e ameaças reais além de Poromiel. Por isso, liderou uma rebelião, a intenção era proteger o povo e revelar a verdade, mas o governo o rotulou como traidor. A rebelião foi sufocada violentamente e Fen foi executado publicamente como exemplo. Todos os filhos dos rebeldes foram marcados com tatuagens e forçados a entrar na Divisão dos Cavaleiros como punição, como aconteceu com Xaden, seu filho.
TEMA & MENSAGEM
A obra aborda temas como poder, resistência, superação de limitações, lealdade familiar, e os perigos do autoritarismo. Há um questionamento constante sobre o real inimigo e as mentiras do governo, estimulando reflexões sobre manipulação política e opressão. O livro mistura ação e romance para comunicar que a verdadeira força está na coragem e no pensamento crítico.
ESTILO DE ESCRITA
A escrita é em primeira pessoa, com linguagem moderna, direta e acessível, adequada ao público jovem adulto. O texto tem ritmo cinematográfico, com capítulos curtos e diálogos recheados de sarcasmo e gírias, o que traz autenticidade à voz da protagonista. Embora eficiente para prender o leitor, o estilo pode parecer raso para quem busca uma prosa mais elaborada ou poética. O autora usa metáforas ligadas ao universo fantástico, mas a linguagem permanece simples e objetiva.
O ritmo é dinâmico e constante, adequado para uma leitura rápida e envolvente. O equilíbrio entre diálogos, descrições e ação é bem mantido, embora algumas cenas de batalha no final sejam descritas de forma acelerada e confusa. A narrativa não cansa, mas poderia beneficiar-se de uma maior pausa para aprofundar certas emoções e cenários.
VEREDITO
Quarta Asa funcionou muito bem para mim pela combinação de fantasia, ação e romance. Gostei do crescimento da Violet, sua coragem diante das dificuldades e do universo bem construído da academia.
O que me incomodou foi a falta de mapas e a certa confusão em momentos de ação rápida no final. Também senti falta de um aprofundamento maior na política e no conflito externo.
O conflito com Poromiel, por exemplo, justifica o treinamento mortal na Academia Basgiath, mas não é muito contextualizado, o que gerou uma confusão com o conflito que acontece em Aretia. Inicialmente achei que se referiam ao mesmo inimigo.
As motivações políticas e reviravoltas na reta final de Quarta Asa, surge a revelação de que: Poromiel talvez não seja o verdadeiro inimigo (ou seja também). A guerra pode ser uma distração fabricada, usada por figuras de poder para manter controle sobre a população de Navarre. Então essa guerra serve como crítica à manipulação governamental, ao militarismo cego e à opressão de ideias divergentes. Foi sensacional, espero que nos próximos volumes tenha mais desenvolvimento político.
Quarta Asa entrega uma fantasia viciante, com uma protagonista humana e falha, que conquista pela sua força interior. O equilíbrio entre romance e ação mantém o leitor preso, apesar de algumas limitações no aprofundamento político e estrutural. Um ótimo primeiro volume que deixa um gostinho de quero mais.
Escrito para jovens e adultos que apreciam fantasia com romance e aventura, o livro cumpre bem seu propósito de entreter com emoção e ação, sem se aprofundar demais em complexidades políticas ou filosóficas. Ideal para leitores que buscam uma narrativa leve, com protagonistas humanas e cenas emocionantes. Mas para leitores que buscam originalidade, fantasia épica, complexidade política e mundo detalhado, o livro pode ficar abaixo das expectativas.
O livro me ensinou que a verdadeira força pode vir da mente e da coragem, não só do corpo. Quarta Asa é um livro que grita por ser devorado, e que deixa o leitor desesperado pela continuação. Se você ama fantasia com foco em romance e superação, vai amar.
Prepare-se para voar alto, queimar por dentro e torcer até o último suspiro. Quarta Asa é só o começo! E agora, você seria escolhido por um dragão?
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