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Resenha: A Corte das Chamas Prateadas - Sarah J. Maas
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A Corte das Chamas Prateadas - Sarah J. Maas
Corte de Espinhos e Rosas -
ACOTAR 4
Avaliação: ★★★☆☆3/5
Classificação: Adulto +18
Gênero: Romance, Fantasia,
Literatura Estrangeira
Ano: 2021 (1°edição), 2023 /
Páginas: 776 / Editora: Galera Record
Edição de luxo.
Prepare-se para
mergulhar em uma jornada intensa de cura, superação e empoderamento. A Court of
Silver Flames não é apenas um spin-off da famosa saga ACOTAR, mas um mergulho
corajoso no abismo de uma personagem que você pode ter odiado — e talvez
aprenda a gostar.
O livro acompanha Nestha
Archeron, irmã de Feyre, em sua trajetória após os horrores da guerra contra
Hybern. Abatida por traumas e escolhas autodestrutivas, ela é forçada a tomar
uma decisão que mudará o rumo de sua vida: reconstruir-se, ou afundar-se de
vez. Acompanhada de Cassian, o guerreiro illyriano de coração indomável, Nestha
se vê diante de treinos, rotinas, amizades inesperadas e a dolorosa tarefa de
se confrontar.
Neste volume, o conflito não é
contra reis ou exércitos, mas contra si mesma. A autora Sarah J. Maas constrói
uma narrativa profunda sobre o poder da vulnerabilidade, a importância do
autocuidado e a reconstrução pessoal como um ato de resistência. O foco está na
saúde mental e emocional, nos laços entre mulheres e no empoderamento
individual.
Personagens & desenvolvimento
Depois da guerra contra o rei
Hybern todos estão emocionalmente quebrados e cada um, tenta juntar os
cacos da sua maneira. Com Nestha não foi diferente, sua forma de se
reconstruir, no entanto, a estava destruindo. Sozinha, livre para fazer suas
escolhas, mesmo que fossem estúpidas e de autossabotagem. Mas tudo tem limite
e, quando ela "usa o dinheiro da corte" para pagar suas dívidas de
jogos e bebidas, sua irmã, Feyre, decide que é a hora de intervir.
Nestha tem uma escolha (tenho
que frisar haha que ela tinha duas opções), no fim, sua decisão foi ir morar na
Casa do Vento, trabalhar meio período na biblioteca e treinar com Cassian. E
NADA DE BEBIDAS! Bom, se ela quisesse continuar sendo sustentada pela corte,
precisaria fazer alguma coisa.
Cassian também é fundamental
para dar um empurrãozinho e incentivar (do jeitinho dele, é claro). Conhecemos
um pouco mais da personalidade dele e seu passado e como ele foi superando os
desafios de sua vida.
Rhys e a Feyre, assim como a
Corte dos Sonhos, fazem algumas aparições ao longo da narrativa. É muito
gostoso rever todo mundo. Estava com saudade! Inclusive Eles tem uma
surpresa não tão surpreendente (eu já sabia devido ao crossover de Reino de
Cinza)! Não segurem as lágrimas de felicidade, pois alguns sentimentos não
duram para sempre, então é bom aproveitar enquanto pode.
No processo de cura da Nestha ela
vai fazer amizades. A Emerie que conhecemos em ACOFAS é descrita como uma
comerciante, e a Gwyn uma sacerdotisa que a Nestha conhece trabalhando na
biblioteca. Ambas têm passados problemáticos e tóxicos, e as três juntas buscam
superar seus medos, traumas e inseguranças. O desenvolvimento das três é
gradual e surpreendente. Inclusive são elas que retomam o treinamento das
Valquírias que morreram há muito tempo (tem todo um contexto, para entender
precisa ler).
Temos romance! Um slow burn para
ser mais específica. Não foi fácil para o nosso casal admitir que se amam. Tem
muitas cenas eróticas, e se formos analisar até o momento, a Nestha é a
personagem mais safada e pervertida da série (até então). Tem momentos que você fica tipo
"QUÊ?! Não, ela não pensou isso".
Nestha não é a personagem mais
amável dessa saga. Sim, sabemos. Então ela vai aprontar e nós vamos passar
muita raiva com ela, um verdadeiro enimies to lovers entre o leitor e
uma personagem (teve uma cena em específico que quis estrangular ela, mas não
pelo que ela revelou, e sim como ela falou, aquilo foi cruel). Fiquei
feliz em outros momentos, pois conheci outro lado que não tinha percebido
antes, suas conquistas me deixam orgulhosa, sua superação e sacrifícios me
deixaram à beira das lágrimas.
Antes de conhecer profundamente
essa personagem, eu não gostava dela (estou sendo sincera) porque achava ela
muito tóxica e arrogante ao extremo (e ela ainda é um pouco), porém sempre quis
entender por que ela era tão insuportável, por que ela era tão indiferente à
Feyre... Por quê? Qual era o motivo?
E como os primeiros livros são
narrados pela Feyre não dava para saber o que se passava na mente de Nestha,
somente agora. De insuportável para querida? Prefiro dizer que ela se tornou
uma querida suportável, ela entende que suas atitudes machucavam todos e que
isso não ajudava a se sentir melhor, muito pelo contrário piorava sua dor.
Reconhecer o erro é o primeiro passo, querer mudar o segundo, e assim ela faz
sua jornada gradualmente.
Ao final da leitura, fui tomada
por uma constatação... talvez sejamos mais parecidos com Nestha do que
gostaríamos de admitir. Ela é o espelho que nos obriga a encarar
aspectos nossos que evitamos aceitar, o egoísmo silencioso, o orgulho ferido, a
recusa em estender a mão quando alguém precisava. Não é à toa que tantos
leitores a rejeitam: ela nos confronta. E quando a literatura nos devolve o
reflexo cru dos nossos defeitos, é mais fácil odiar o espelho do que aceitar o
que ele mostra.
Nestha é odiada porque representa aquilo que fingimos não ser.
Mas é justamente esse espelho
desconfortável que torna sua trajetória tão poderosa. E por falar em espelho
gostaria de relembrar algo para você: no livro "Corte de Asas e
Ruína" (terceiro volume), Feyre menciona um espelho mágico chamado Uróboro,
um artefato antigo e poderoso localizado na Corte dos Pesadelos. Essa passagem
é breve, mas profundamente simbólica e carrega uma carga emocional forte.
"É raro uma pessoa encarar quem realmente é e não fugir, não ser destruída por isso. É o que o Uróboro mostra a todos que o buscam: quem são, cada centímetro desprezível e profano. alguns olham para o espelho e nem percebem que o horror refletido são eles. Mesmo que o terror os deixem loucos."
- O Entalhador de Ossos, Corte de Asas e Ruína,
capítulo 68.
O Uróboro é descrito
como um espelho que mostra a verdade absoluta de quem o encara, não
apenas a aparência física, mas o que está no fundo da alma. Encarar o
espelho é considerado uma provação tão intensa que muitos enlouquecem ao tentar
suportar a própria verdade.
Embora Feyre mencione o espelho
no volume 3, é apenas mais adiante na série que essa ideia se desenvolve mais
claramente com outros personagens, como Nesta. Ainda assim, a menção do espelho
por Feyre já antecipa um tema recorrente da saga: a necessidade de se
confrontar com a própria dor e se aceitar por completo.
Feyre, que já passou por inúmeras
provações, como a Guerra, a Muralha, Amarantha e a transformação em Feérica,
carrega culpa, raiva, medo, mas também força, empatia e coragem. O espelho
funciona quase como um símbolo da jornada interna que ela percorre ao longo da
série. E agora com Nestha não é diferente. Elas lidaram com a dor de forma
diferente.
A referência ao espelho convida o
leitor a fazer a mesma pergunta: Você suportaria olhar para si mesmo de
forma crua e completa? O que veria ali?
Sarah J. Maas brinca com esse
tema de forma delicada, mostrando que o verdadeiro heroísmo não está apenas em
vencer inimigos externos, mas em enfrentar os próprios monstros internos.
Ver uma personagem quebrada pela
dor, consumida pela culpa e ainda assim determinada a escalar, a resistir, a se
reconstruir mesmo quando tudo em si gritava o contrário, isso não é apenas
inspirador, é humano. A forma como ela enfrenta seus fantasmas, engole o
orgulho e encontra uma força silenciosa onde antes só havia escombros
emocionais é o que transforma sua jornada em algo tão envolvente.
Talvez, não deixaríamos nossos
familiares passar fome, mas será que nunca fomos omissos com quem amamos?
Quantas vezes disfarçamos nossa indiferença com racionalizações? Quantas vezes
usamos o orgulho como escudo para não ceder, para não ajudar, para não pedir
perdão? Quantas vezes viramos as costas porque não simpatizávamos com alguém,
mesmo tendo plena capacidade de fazer a diferença?
Nestha nos desconcerta porque nos obriga a admitir que a bondade exige mais do que boas intenções: exige coragem para mudar, e para reconhecer que também somos falhos. E isso, talvez, seja sua maior lição.
Universo & Ambientação
A ambientação da Casa do Vento e os treinos nos campos de
batalha reforçam o contraste entre reclusão e superação. A biblioteca como
local de cura é simbólica e acolhedora, dando ao cenário um papel terapêutico.
Estilo de Escrita
SJM mantém seu estilo envolvente, com descrições ricas,
diálogos afiados e cenas íntimas carregadas de intensidade emocional e
sensualidade. A escrita flui com naturalidade, mesclando introspecção com ação
e romance, e entrega várias frases impactantes.
✔️ Pontos positivos
- Profundidade
psicológica da protagonista;
- Retrato
sincero do trauma e da cura;
- Relações
femininas fortes e inspiradoras;
- Cassian
sendo o equilíbrio perfeito entre guerreiro e cuidador (ele também gosta
de atissar, de provocar);
- As
referências às Valquírias e a construção de legado feminino.
❌ Pontos negativos
- A
narrativa tem um ritmo mais lento, o que pode desagradar leitores
esperando por batalhas épicas;
- Alguns
diálogos românticos ou cenas hots podem parecer repetitivos;
- A
ausência de um vilão externo na maior parte do enredo deixa o enredo menos
dinâmico em certos momentos.
- Cenas
e diálogos pouco convincentes: Em diversos momentos, a narrativa falha em
sustentar a coerência emocional dos personagens.
- O
final é incoerente com o universo construído: A resolução do clímax
apresenta uma situação grave que, à solução de tudo foi usar uma os
artefatos, mas com um sistema mágico sofisticado, curandeiros poderosos e
conhecimento ancestral, foi inaceitável. A ausência de uma simples
cesariana, em um mundo onde curas milagrosas acontecem, quebra a lógica
interna da obra. O desfecho, que deveria ser emocionante, acaba soando
descuidado e até frustrante.
- O
retrato da saúde mental tem limites éticos não discutidos: embora o foco
da obra seja a depressão e os efeitos do trauma, é importante ressaltar
que sofrimento psíquico não justifica o tratamento tóxico com as pessoas
ao redor. A autora tenta humanizar Nestha, o que é válido, mas em certos
trechos a narrativa parece normalizar comportamentos abusivos sob o
pretexto da dor, sem oferecer o contraponto necessário. A ausência de uma
crítica mais clara a essas atitudes pode levar à romantização do sofrimento
como desculpa para agressividade. Não me convenceu.
Confesso que comecei o livro com o ranço de Nestha, ela
sempre me pareceu fria, arrogante e insuportável. Mas a mágica de Sarah J. Maas
é justamente essa: mostrar que até as almas mais quebradas têm suas razões e
suas cicatrizes. A forma como Nestha encara seus fantasmas me deixou com o
coração apertado e, em muitos momentos, vi nela dores que me eram familiares. A
relação com Cassian é ardente, mas também sensível. E, claro, gritei com certas
revelações e me emocionei profundamente com a jornada das novas Valquírias.
Se você achava Nestha insuportável, leia este livro. Se
você acha que redenção é impossível, leia este livro. A Court of Silver Flames
entrega uma narrativa envolvente e necessária, onde os monstros reais são
internos, e enfrentá-los é o verdadeiro heroísmo. Indicado para quem ama
personagens femininas imperfeitas, intensas e humanas.
Leitura obrigatória para fãs de ACOTAR e para quem precisa acreditar que a cura é possível.
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